A Obsessão Dela

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Os detalhes são importantes.

Sábia

A porta do apartamento bateu atrás de mim, o som ecoando pelo espaço escuro como a pontuação de mais uma noite cheia de adrenalina. Chutei as botas, arranquei o moletom salpicado de sangue e o deixei cair no chão sem pensar duas vezes. O peso da noite pendia sobre mim como uma segunda pele, pegajosa e fria, mas tudo o que eu queria, não, precisava, era conforto. Naomi já estava encolhida no sofá, trocando de canal como se isso importasse. Não importava. Não quando eu tinha ele na minha mente. Me joguei nas almofadas e caí de lado, deixando minha cabeça pousar no colo dela como uma criança buscando calor.

"Oi pra você também," ela murmurou com um sorriso suave, se ajeitando debaixo de mim para ficar confortável. Seus dedos automaticamente encontraram o caminho para o meu cabelo, passando pelas mechas com familiaridade. "Como está seu namoradinho hoje?"

Suspirei. Pesado. Longo. Do tipo que carrega todas as coisas que eu nunca poderia dizer em voz alta.

"Ele é tão perfeito. Ele olhou pra mim hoje à noite."

Naomi parou no meio do movimento. "Tipo, olhou pra você olhou pra você?" Sua voz subiu num tom de descrença.

Me sentei um pouco, apenas o suficiente para encontrar seus olhos com os meus. "Tipo... do outro lado da sala. Eu estava num canto escuro, e meu rosto estava coberto, mas eu sei. Nossos olhos se encontraram, e eu senti de novo."

Ela ergueu uma sobrancelha, mas não me zombou, pelo menos não de forma cruel. "Aquele sentimento que você teve na primeira vez que ele olhou pra você?"

"Sim!" Joguei as mãos para o alto, depois as arrastei pelo rosto como se pudesse limpar a eletricidade ainda zumbindo sob minha pele. "Aquela coisa estúpida, que parte a alma e me fez me apaixonar antes mesmo de saber o nome dele."

Naomi deu uma risadinha. "Obcecada. Você é uma stalker de carteirinha." Mas suas palavras eram provocativas, não cruéis. Ela entendia. Ela tinha visto o que eu passei. Ela sabia o que eu perdi. Eu não negava. Não podia.

"Não é só isso. É ele. Ele é... seguro. Forte. Faz as pessoas se calarem só de entrar numa sala e, quando ele olhou pra mim, mesmo em uma multidão de monstros, eu me senti vista. Não me sentia assim desde..."

Minha voz foi sumindo. Não havia necessidade de terminar a frase. Naomi sabia o nome que eu não pronunciava. Yakov. Naomi e eu estávamos ligadas pelo mesmo destino, o mesmo governante, a mesma tortura. Meu estômago se revirou ao pensar nele, aquela sombra imunda ainda me perseguindo por cada porta trancada e cada noite sem dormir. Mas Conner? Ele fazia essa sombra encolher. Ele era a única luz em que eu confiava. Meu olhar se perdeu no teto, como se eu ainda pudesse vê-lo, ainda sentir o calor dos olhos dele através da máscara, do barulho, da distância.

"Ele salvou minha vida naquela noite, Nai. Três anos atrás. Ele nem sabia. Apenas entrou, matou o homem certo e mudou tudo. Tenho tentado retribuir desde então."

Os dedos de Naomi pararam no meu cabelo. "Invadindo a casa dele e deixando mãos decepadas em caixas?"

Lancei um olhar sério para ela. "Eram presentes."

"Claro que eram." Ela revirou os olhos e se recostou, me deixando acomodar novamente.

"Um dia," sussurrei. "Quando eu estiver finalmente pronta... Quando Yakov estiver morto. Quando os outros tiverem ido embora. Quando for seguro para ele me amar de volta. Até lá... vou continuar protegendo ele. Ele não precisa saber. Ainda não."

Naomi não respondeu de imediato. Seus dedos apenas se moviam gentilmente pelo meu cabelo, firmes e silenciosos como se estivesse acalmando um animal selvagem. Talvez estivesse.

"Você vai arruinar ele, sabe," ela finalmente disse suavemente, sua voz um sussurro contra o zumbido da TV ao fundo.

Fechei os olhos, um leve sorriso surgindo nos meus lábios como se estivesse esperando permissão.

"Só se ele deixar."

Ela não argumentou. Nós dois sabíamos que eu não estava errado.

Quando Naomi finalmente se levantou e se retirou para o quarto, a porta se fechando com um clique atrás dela, o apartamento se acomodou no seu usual silêncio. Esperei um instante, então me movi. Da bolsa de viagem que eu tinha jogado perto da porta, puxei o recipiente preto. Ainda estava quente por dentro, com uma grossa fatia de lasanha que eu tinha feito mais cedo hoje. Esquentei no micro-ondas sem cerimônia, o zumbido artificial preenchendo a cozinha enquanto eu me movia para a mesa desgastada no canto e abria meu laptop. Quatro telas se acenderam. Digitei minhas senhas criptografadas, passei pelos firewalls falsos que eu tinha plantado caso alguém viesse bisbilhotar, e em segundos, o mundo dele era meu.

Cada ângulo de câmera. Cada microfone. Cada sussurro. Ele nunca me via, mas eu sempre estava lá. Recostei-me enquanto colocava os fones de ouvido, os dedos dançando sobre as teclas com facilidade prática, sincronizando os bugs que eu tinha plantado semanas atrás através do meu aplicativo secundário. A voz dele filtrou, baixa, rouca, cansada. Cadeira da cozinha arrastando. Um suspiro suave. As câmeras de segurança na casa dele não eram as únicas às quais eu tinha acesso. Ele tinha atualizado recentemente, provavelmente por conselho de um dos seus homens, mas não importava. Eu já tinha mapeado as novas. Observei enquanto ele se sentava à mesa da cozinha, mangas da camisa arregaçadas, cabelo castanho despenteado como se ele tivesse passado a mão muitas vezes. Havia tensão nos ombros dele, mas ele estava seguro. Por enquanto. E na mesa à sua frente, meio acabada, minha lasanha.

"Bom garoto," sussurrei, um sorriso satisfeito surgindo nos meus lábios. Observei enquanto ele dava outra mordida, limpando o canto da boca com um guardanapo que ele não percebia que combinava com os que eu usava. Eu tinha escolhido de propósito. Detalhes importam. Ele ainda não sabia, mas eu estava sempre alimentando ele, sempre mantendo ele um pouco mais seguro, um pouco mais forte. Só até eu poder ser dele sem as sombras me seguindo. Sem os fantasmas. Troquei de tela. Um dos homens de Yakov tinha sido avistado três quarteirões abaixo do território de Conner mais cedo nesta noite. Descuidado. Eu já tinha marcado o carro e redirecionado uma mensagem para parecer uma oferta de trabalho de um rival. Ele morderia a isca amanhã, e então eu cuidaria disso. Silenciosamente. Permanentemente. Conner não precisava sujar as mãos de sangue, não por isso. Era para isso que eu estava aqui. Inclinei-me, observando o rosto dele novamente.

"Dorme logo," murmurei. "Você tem aquela reunião nos docks amanhã. Eu já limpei o caminho. Você vai ficar bem."

Outra mordida. Outra respiração. Outro batimento cardíaco. Terminei a lasanha devagar, observando ele como um ritual devocional. Não por fome, mas para acompanhar ele. Uma sombra em ritmo com seu pulso. E quando fechei o laptop depois da meia-noite, limpando meu garfo e guardando-o na gaveta como sempre fazia, parei na janela. Olhando para a cidade escura.

Ele ainda não sabia, mas já era meu. E quando chegasse a hora, quando o sangue parasse de correr, e o passado fosse enterrado sob os corpos dos homens que tentaram nos separar, eu deixaria ele me amar de volta.

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