Capítulo 3
Eu recuei, mas não desisti. "Estou dizendo que não quero me casar com o Raymond."
Seu riso foi cruel e desdenhoso. "O que você quer não importa, Aurora. Isso é sobre dever, sobre posição, sobre o futuro da nossa família."
Ele circulou ao redor da mesa, seus passos pesados no chão de madeira. "Se Raymond cancelar o noivado, sua vida estará arruinada. Você entende isso? Ninguém vai querer a companheira rejeitada do Alfa."
Suas palavras cortaram fundo, me atravessando com precisão cirúrgica. Enterrei minhas unhas nas palmas das mãos, usando a dor aguda para manter o foco.
"Raymond é o melhor possível para você," ele continuou. "O filho do Alfa. O futuro desta matilha. Se ele está se afastando, a culpa é sua. Você claramente é incompetente demais para manter seu próprio homem sob controle."
Minha loba eriçou-se com o insulto, e lutei para mantê-la contida. Demonstrar agressividade para com meu pai só pioraria as coisas.
Ele parou de andar, seus olhos se estreitando com suspeita. "Ele se apaixonou por outra pessoa? É isso?"
Meu coração deu um salto. Eu não podia trair o segredo de Raymond, não importava o quanto ele tivesse me machucado.
"Não," eu disse rapidamente, talvez rápido demais. "Não há ninguém mais."
Reuni minha coragem e levantei a voz. "Eu sou a que não gosta mais do Raymond. Eu não quero me casar com ele!"
O tapa veio sem aviso. A força me fez cambalear, e mal consegui me apoiar na parede. Minha bochecha queimava, e o gosto de sangue encheu minha boca.
"Criatura ingrata," meu pai sibilou, imponente sobre mim. "Depois de tudo que sacrifiquei por você."
Toquei minha bochecha, sentindo-a inchar sob meus dedos. Minha loba rosnou, exigindo retribuição, mas eu a sufoquei.
"Se você se recusar a casar com Raymond," meu pai disse, sua voz perigosamente calma, "vou cortar o tratamento da sua mãe. É isso que você quer?"
A ameaça congelou meu sangue. Minha mãe estava acamada há anos, sua condição exigindo medicamentos caros que só a posição de Beta do meu pai podia pagar.
"Você não faria isso," eu sussurrei, mas a certeza fria em seus olhos me disse o contrário.
"Experimente," ele desafiou. "Agora saia da minha vista. E conserte a bagunça que você criou com Raymond. Espero ouvir os planos de casamento até o final da semana."
Saí cambaleando do quarto, minhas pernas mal me sustentando. O tratamento da minha mãe. Ele sabia exatamente onde mirar para garantir minha obediência.
No dia seguinte, uma batida veio à minha porta. Ignorei, esperando que quem quer que fosse me deixasse em paz.
Mas as batidas persistiram, seguidas por uma voz familiar.
"Aurora? Sou eu. Abra."
Raymond.
Permaneci em silêncio, esperando que ele fosse embora. Em vez disso, ouvi o rangido da janela se abrindo, e momentos depois, Raymond entrou, como havia feito inúmeras vezes quando éramos crianças.
"Você poderia ter usado a porta," eu disse secamente, sem me dar ao trabalho de levantar de onde estava sentada na beira da minha cama.
"Você não estava respondendo." Seus olhos se arregalaram levemente ao ver meu rosto. "O que aconteceu com você?"
Virei-me. "Nada. O que você quer?"
Ele hesitou, então enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena caixa. "Uma oferta de paz," ele disse, colocando-a no meu criado-mudo. "E para te agradecer por manter meu segredo."
Eu não toquei na caixa. "Você não precisava me trazer um presente."
"Eu quis." Ele sentou-se ao meu lado, a cama afundando sob seu peso. "Aurora, eu... sinto muito por ontem. Fui duro."
Eu olhei para minhas mãos dobradas no meu colo. "Não importa."
"Importa, sim." Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo escuro. "Olha, eu sei que isso é uma bagunça. Mas eu preciso da sua ajuda."
Claro. Ele não tinha vindo para se desculpar de verdade. Ele precisava de algo de mim.
"Meus pais estão insistindo no nosso noivado," Raymond continuou. "Eles não querem ouvir a razão. Mas eu não posso abrir mão da Giana. Ela é minha companheira destinada."
Eu permaneci em silêncio, deixando-o falar.
"E se... e se nós seguíssemos com isso, mas apenas como um contrato? Um arranjo temporário até eu garantir minha posição como Alfa." Sua voz ficou mais animada enquanto ele se empolgava com a ideia. "Você seria meu escudo, ajudando-me a proteger Giana até eu ser poderoso o suficiente para que ninguém possa desafiar minha escolha."
Finalmente, olhei para ele. "Você quer que eu me case com você, sabendo que você ama outra pessoa?"
"Não seria de verdade," ele insistiu. "Apenas para mostrar. E isso beneficiaria você também. Quando eu estiver estabelecido como Alfa, eu te libertarei. Você poderá encontrar alguém que realmente te ame."
A ironia era quase suficiente para me fazer rir. Eu tinha encontrado alguém que eu realmente amava. Ele só não me amava de volta.
"E se eu disser não?" perguntei baixinho.
A expressão de Raymond ficou séria. "Seu pai foi falar com o meu ontem à noite. Ele ameaçou renunciar ao cargo de Beta se você recusasse. Isso significaria sua família inteira perdendo status, o tratamento da sua mãe..." Ele parou, mas a implicação era clara.
Meu pai já tinha se movido para me encurralar. Eu não tinha escolha.
"Está bem," eu disse friamente. "Eu concordo com seu contrato."
Com eficiência rápida, o Alfa e o Beta finalizaram os detalhes da nossa cerimônia de noivado—daqui a apenas três dias. Três dias para me preparar para uma vida de fingimento.
A cerimônia de noivado foi luxuosa, realizada no grande salão da alcateia. Convidados ilustres enchiam a sala, seus olhos curiosos seguindo cada um dos meus movimentos. Eu usava bem minha máscara—a noiva perfeita, corada de honra por ser escolhida como a futura Luna.
Durante o banquete, uma comoção na entrada chamou a atenção de todos. Um elegante carro esportivo preto parou, seu motor ronronando antes de silenciar. A porta se abriu para revelar um homem alto, de cabelo escuro, que se movia com a graça perigosa de um predador.
Kane, o herdeiro de outra alcateia poderosa e melhor amigo de Raymond.
Sua reputação o precedia—o notório playboy que deixava corações partidos por onde passava. Eu sempre o achei arrogante e insuportável durante suas visitas ocasionais.
Ele caminhou diretamente até onde Raymond e eu estávamos sentados, um sorriso de escárnio nos lábios.
"Muito bem," ele disse, seus olhos varrendo-me com diversão. "Parabéns, Aurora. Você finalmente conseguiu o que queria, não é? Casar-se com Raymond depois de todos esses anos correndo atrás dele."
O tom de provocação fez minhas bochechas arderem. Algo em seus olhos me fez sentir como se ele já tivesse visto através da nossa farsa, como se estivesse zombando não apenas de mim, mas de toda a farsa que estávamos apresentando.
Forcei um sorriso. "Obrigada por vir, Kane. Faz tempo."
Raymond deu um passo à frente, batendo no ombro de Kane com uma calorosidade que ele não mostrava para mim há anos. "Kane está aqui para umas férias e algumas negociações de negócios," ele explicou para mim e para os curiosos ao redor. "Ele ficará por três meses."
Eu assenti educadamente, mas minha atenção já estava se afastando da conversa. Uma sensação estranha estava crescendo dentro de mim—um calor que começava no meu núcleo e lentamente se espalhava. Minha pele de repente parecia apertada demais, sensível demais.
Eu me mexi desconfortável, tentando focar nos convidados ao meu redor, mas o calor só intensificava. Minha respiração ficou mais curta, e eu senti uma gota de suor escorrer pela minha coluna, apesar do ar fresco da noite.
O que estava acontecendo comigo?
































































































































